Ela olhava para o céu nublado com os olhos abertos e atentos, admirando as nuvens, mesmo negras e pesadas. Seus olhos espelhando o efeito branco-negro da luz do sol refletindo nas nuvens e ela suspirava profundamente, contemplando a imagem como se durasse séculos e o reflexo nos seus olhos mostrando a intensidade daquele momento.
Essa cena me encantou e, curioso como sou, resolvi me aproximar e perguntar o que fazia com que ela parecesse tão bem e tão leve. Ela me respondeu que via beleza em cada fenômeno e em cada criação e, com serenidade, acrescentou que no mundo corrido como o atual, só sobrava tempo para negatividades e o vazio. Ela também era consumida pelo vazio, mas não pela negatividade.
Seus olhos azuis-claro me fitavam, seu sorriso branco e simpático, seu jeito simples de falar e se portar fizeram com que eu quisesse conversar por muito tempo com aquele ser solitário e simpático.
Pedi seu telefone ou e-mail e quis que ela pegasse os meus, mas ela recusou. Tivemos uma longa conversa, que durou horas. Ela falava tão suave e com uma voz tão marcante, que nunca encontrei outra igual. Me contou sobre sua mãe, já que o pai ela nunca conheceu. Gostava da solidão, é como se fosse parte fixa do seu peito e mesmo assim demonstrava bondade, serenidade e paixão pela vida e suas formas.
A noite caiu e tive de deixá-la ir.
Na despedida, não me contive e marquei aquela moça com um beijo. Ela partiu sem intenções de reaparecer.
Fiquei muito tempo sem olhar para outras mulheres, a lembrança do seu sorriso me bastava.
Voltei ao mesmo lugar que a vi. O sol está se pondo e eu posso ver um riacho que passa a alguns quilômetros, por entre as colinas. Estou em cima de uma morro, numa cidade pequena e a visão é nítida, mesmo o riacho correndo tão longe. Ela me ensinou tanta coisa em tão pouco tempo, nunca a esqueci. E agora eu estou aqui, admirando o pôr-do-sol, vendo beleza em cada detalhe, lembrando do olhar da minha amada.
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